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A jornada de Anabela

Era uma noite comum quando Anabela, de 28 anos, saiu do trabalho. A chuva fina tornava as ruas ainda mais desertas do que o habitual. O som dos seus passos parecia ecoar em toda a cidade. Sentia o coração bater mais depressa cada vez que passava por uma esquina mal iluminada. Anabela tinha medo. Não era algo recente, mas também nunca o admitira em voz alta. Para ela, o medo era quase uma segunda pele.

Desde adolescente, Anabela sentia um receio constante. Havia a insegurança de falar em público, o desconforto em situações sociais e, claro, o medo de andar sozinha à noite. Isso moldava a sua rotina e influenciava as suas escolhas. Não frequentava certos lugares e evitava ao máximo qualquer situação fora do seu controlo. Não sabia ao certo como as coisas tinham chegado a esse ponto, mas ali estava ela, apressando o passo como se isso pudesse afastar todos os perigos invisíveis.

a jornada de anabela

Foi durante um almoço com uma colega de trabalho que Anabela ouviu falar pela primeira vez de Jiu Jitsu. Sofia, sempre entusiasmada, descrevia como as aulas a ajudavam a sentir-se mais segura e confiante. Anabela ouviu com interesse, mas também com cepticismo. Artes marciais? Não eram apenas para pessoas atléticas e cheias de energia? E ela, que nunca fora particularmente boa em desporto? No entanto, a curiosidade ficou. Naquela noite, ao chegar a casa, pesquisou sobre o tema.

O que encontrou surpreendeu-a. Mais do que uma luta, o Jiu Jitsu parecia ser uma forma de compreender o corpo e a mente. Havia um foco especial no autocontrolo e na capacidade de ultrapassar desafios. Não era apenas sobre força física, mas sobre estratégia e resiliência. Anabela fechou o computador com uma ideia a germinar: talvez valesse a pena experimentar.

O início da jornada de Anabela

A primeira aula foi um teste às suas inseguranças. Ao entrar no espaço, viu pessoas de todas as idades e tamanhos. Alguns pareciam muito experientes; outros, como ela, estavam claramente ali pela primeira vez. Sentiu-se um pouco deslocada, mas o instrutor, com um sorriso acolhedor, explicou que todos começavam do mesmo ponto. “Aqui ninguém está a competir com os outros. O verdadeiro desafio é connosco próprios”, disse ele.

Nos primeiros minutos, Anabela tropeçava nos seus próprios pés. A cada erro, sentia o rosto corar, mas ninguém a julgava. Pelo contrário, os companheiros mais experientes ajudavam-na com paciência. Quando, finalmente, conseguiu realizar a sua primeira técnica básica, um sentimento novo surgiu: orgulho. Pela primeira vez em muito tempo, Anabela sentiu que podia realmente aprender algo que a fortalecesse.

Ao longo das semanas, as aulas tornaram-se uma parte fundamental da sua rotina. Havia dias em que chegava ao dojo com a mente pesada pelo stress do trabalho, mas saía sempre mais leve. Começou a reparar que o Jiu Jitsu não era apenas uma prática física. Durante os treinos, era forçada a concentrar-se no momento presente. Cada movimento exigia atenção e precisão. Aos poucos, essa capacidade de foco começou a transbordar para outras áreas da sua vida.

Mas a maior transformação aconteceu num dia banal. Anabela estava numa fila para comprar café quando um homem, claramente irritado, começou a gritar com a funcionária. Em situações como esta, o habitual era Anabela tentar passar despercebida, mas dessa vez algo mudou. Não foi imprudente nem agressiva, mas a sua postura era diferente. Olhou para o homem com firmeza e falou calmamente, mas com autoridade, pedindo-lhe para moderar o tom. Para sua surpresa, ele recuou. Não foi a força física que fez a diferença, mas a confiança que ela agora transmitia.

Resultados da jornada de Anabela

Com o passar do tempo, Anabela começou a ver o mundo com outros olhos. Andar na rua deixou de ser uma fonte de ansiedade. Claro que ainda tomava precauções, mas o medo irracional estava a desaparecer. Percebia agora que a verdadeira segurança não vinha de evitar os perigos, mas de saber enfrentá-los. O Jiu Jitsu ensinou-a a cair, a levantar-se e, acima de tudo, a nunca desistir.

Anabela também percebeu que a sua jornada ia muito além da segurança pessoal. As competências que desenvolveu no tatame ajudaram-na a enfrentar outras áreas da vida. No trabalho, passou a expressar as suas ideias com mais clareza e assertividade. Nas relações, deixou de evitar conflitos saudáveis e aprendeu a estabelecer limites. A transformação era evidente para todos à sua volta, mas especialmente para ela.

a jornada de Anabela

Um dia, enquanto estava sentada no parque a ler um livro, um pensamento cruzou-lhe a mente: “E se eu nunca tivesse dado o primeiro passo?” Sorriu, lembrando-se da primeira aula, do receio de falhar, e das vezes que quase desistiu. Agora, entendia que a coragem não era a ausência de medo, mas sim a vontade de seguir em frente apesar dele.

Ao olhar para trás, Anabela viu que o Jiu Jitsu foi mais do que uma solução para os seus medos. Foi um catalisador de transformação pessoal. Não era apenas sobre aprender a defender-se, mas sobre redescobrir quem realmente era. No tatame, encontrou algo que nunca soubera estar a procurar: um espaço onde podia ser vulnerável e, ao mesmo tempo, crescer.

Hoje, Anabela caminha com a cabeça erguida. Os medos não desapareceram completamente, mas deixaram de a controlar. Sabe que a vida continua a ter os seus desafios, mas agora encara-os com leveza e confiança. O Jiu Jitsu ensinou-lhe que cada queda é uma oportunidade de aprender e que a verdadeira força está em levantar-se sempre.

Ao terminar o seu passeio pelo parque, Anabela cruza-se com uma rapariga que parecia ser uma versão mais jovem de si mesma: ombros tensos, olhar esquivo, passos apressados. Por um instante, considera abordá-la, mas decide não o fazer. Em vez disso, envia-lhe um desejo silencioso: que um dia também ela encontre a sua própria jornada de superação. E, com um sorriso, segue em frente, confiante e livre.

Publicado emArtigos, Empoderamento Feminino, Jiu Jitsu